Querer é Poder, se Deus Quiser! - Reflexos da Arrogância Humana
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A expansão da nossa arrogância moderna certamente surpreenderia — e talvez até assustasse — os nossos antepassados. Eles possuíam a humildade de reconhecer que a vida é, em sua essência, um mistério profundo, algo que escapa ao nosso controle e desafia qualquer tentativa de previsão absoluta. Sabiam que, diante da natureza e do destino, o ser humano é pequeno, vulnerável e, sobretudo, dependente de forças maiores do que sua própria vontade.
Por isso, cultivavam uma reverência genuína diante do desconhecido. Expressões como _Deo concedente_ — o “se Deus quiser” — ou o _Insha’Allah_ dos árabes, eram proferidas com sinceridade, vindas do fundo da alma. Não se tratava de mero hábito linguístico, mas de uma consciência viva da necessidade de fé, paciência e perseverança enquanto se aguardava, com esperança, a resolução dos processos da vida. Muitos desses desfechos eram vistos, inclusive, como milagres — sinais da ação divina no cotidiano. Hoje, no entanto, vivemos sob o domínio de uma ilusão perigosa: a crença de que tudo está ao nosso alcance, bastando apenas desejar ou se esforçar o suficiente. A máxima moderna “querer é poder” se tornou um mantra popular, repetido à exaustão como se fosse uma verdade absoluta. Mas essa ideia, embora sedutora, reflete uma visão inflada e egocêntrica da condição humana.
Carl Gustav Jung já alertava para esse paradoxo em nossa cultura contemporânea. Em uma de suas obras, escreveu:
“[...] avançamos tão perigosamente na nossa ilusão de poder que, embora ainda usemos expressões como ‘se Deus quiser’, já não sabemos mais o que estamos dizendo, pois na mesma frase somos capazes de acrescentar que ‘querer é poder’.” (OC16/2, §393)
Essa contradição revela muito sobre a nossa época. Perdemos o sentido da transcendência, da espera confiante, da aceitação serena de que nem tudo depende de nós. Ao querer tudo, o tempo todo, e ao acreditar que a vontade humana basta, nos distanciamos do sagrado e nos aproximamos de uma forma sutil — mas profunda — de arrogância.
Reconhecer nossos limites não é fraqueza, mas sabedoria. Reaprender a dizer "se Deus quiser" com autenticidade talvez seja um passo importante para reencontrarmos a humildade perdida — aquela que nos conecta à vida com mais verdade, gratidão e respeito.
Assista este vídeo de *Waldemar Magaldi* refletindo essas questões e nos ajude na divulgação do nosso canal!
*IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa*
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